sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Omolu / Obaluaê, o Orixá da transmutação, a força Divina da transformação



O Orixá que denominamos de forma dupla nos terreiros de Umbanda, ora tratamos em nossas cantigas como Omolu, ora nos reportamos a esta representação, esta emanação de Deus como Obaluaê, é um único Orixá. E assim começamos a afirmar que Omolu/Obaluaê é um Orixá, ou seja, uma emanação de Deus, uma representação, uma qualidade do próprio Criador.

Em nossa casa cultuamos e reverenciamos o Orixá Omolu/Obaluaê, e temos uma relação muito própria em tratar os Orixás, uma vez que todos aprendemos que se Omolu é Orixá, se Nanã é Orixá, se Yemanjá é Orixá, se Oxossi é Orixá, e assim por diante, devemos considerá-los como indispensáveis para a compreensão de Deus. Ou seja, não existe uma forma de não interpretarmos o mundo, seja ele material, seja ele espiritual, se não compreendermos cada um dos Orixás e a integração entre os mesmos. Assim, entendemos que todos são fundamentais e essenciais para o Universo. Se nós não entendermos um Orixá que seja, não podemos compreender o todo, ou O Todo. Para quem quiser saber quantos são e quem são, acesse o artigo "Quem são e quantos são os Orixás."

Omolu/Obaluaê é o Orixá responsável, o Orixá regente das reencarnações, é a força divina que preside o desprendimento do espírito do corpo material sem vida, e, por conseguinte a força divina que liga o espírito no corpo material. Desta forma, no desencarne e no reencarne temos a força de Omolu/Obaluaê atuando em nós.

Senhor das Almas, Omolu/Obaluaê têm regência no campo santo, ou seja, nos cemitérios, e também nos locais similares, isto é, nos locais onde culturalmente se depositam os mortos, como crematórios, mares, rios, cavernas, etc.

Omolu/Obaluaê também é conhecido como o médico dos pobres, uma vez que é o Orixá da peste e da cura da peste, é esta emanação de Deus que possibilita a transmutação de um estado doentio em um estado saudável, é nesta corrente divina que os espíritos podem trabalhar na busca de materialização e desmaterialização para a cura do corpo físico. Por ser o senhor da Morte, ele detém o poder da vida, e assim atua no mundo material também na cura das doenças.

Este Orixá tem como elemento o fogo e a terra, ou a terra flamejante, a lava. Pois ao mesmo tempo em que molda com a terra, destrói ou forja com o fogo. E por isto é o Senhor da Transformação. Para entendermos essa força transformadora, um bom meio é observarmos a pipoca. A semente de milho de pipoca é dura, não serve para comermos, é feia, acanhada, mas basta colocarmos o fogo para transformarmos este semente dura, em um alimento rico, cheio de beleza. Ao estourar a pipoca simbolizamos a força transformadora de Omolu/Obaluaê. O poder de mudar de transformar algo que não tem serventia em algo que encanta. Não é por acaso que a pipoca é um dos pratos ofertados a este Orixá.

Sem dúvida nenhuma Omolu/Obaluaê é essencial para a nossa Umbanda, para a vida material como a conhecemos. Omolu/Obaluaê é um Orixá misterioso, guarda muitos segredos, sua representação coberto de palha da costa, não é apenas uma forma de esconder suas feridas, mito contado na tradição yorubá (nagô), mas o símbolo de alguém que tem o que esconder, algo que não pode ser revelado a qualquer um.

Muitas músicas populares fazem referência a este Orixá, mas quero destacar a música Minha Fé, cantada por Zeca Pagodinho, em que no meio da música entoa:
“Nas mandingas que a gente não crê, mil coisas que a gente não vê, valei-me meu Pai Atotô Obaluaê, valei-me meu Pai Atotô Obaluaê.”

Ou seja, nos mistérios da vida, em tantas coisas que não acreditamos, mas temos medo, valei-me meu Pai, proteja-me Obaluaê, abençoa-me Omolu.

Sua cor na Umbanda retrata esta força: o branco e o preto. O branco o espectro luminoso da união de várias cores, representando a pureza, a fé divina, o que ainda pode ser preenchido, e o preto que representa a força que suga, que atrai energias. Ou seja, com uma mão Ele suga as energias que precisam ser modificadas, que nos atrapalham e com a outra Ele nos enche de fé, de pureza e de energias positivas.

Por estas razões que os Pretos-Velhos têm ligação tão íntima com a representação de Deus que chamamos Omolu/Obaluaê. Senhores ancestrais que representam as almas que já fizeram a passagem, os pretos-velhos já vivenciaram tudo o que hoje estamos passando, os Pretos-Velhos, utilizam as energias deste Orixá todo o tempo. Muitas casas saúdam os Pretos-Velhos com “adorei as Almas”, Omolu/Obaluaê é o Senhor de todas as almas.

Também encontraremos nestas explicações todos os motivos que podem justificar a proximidade e a ligação umbilical entre os Exus e Pombagiras com o Senhor Omolu/Obaluaê. Senhor do campo santo, transformador, detentor do poder de conduzir as almas, senhor das reencarnações, Omolu/Obaluaê cedem aos Exus e Pombagiras as energias tão necessárias para os seu trabalhos. Não existe nenhum Exu ou Pombagira que não use as energias de Omolu/Obaluaê de forma constante.

Assim contemplar esta força, esta energia é algo grandioso e sem esta face de Deus eu entendo que não posso compreender a Umbanda, aliás sequer posso compreender a mim mesmo. Por isso eu tenho a convicção de que Omolu/Obaluaê é um Orixá, e como Orixá é tratado, cultuado e reverenciado em nossa casa.

A saudação a Omolu/Obaluaê é Atotô! Atotô Sr. Omolu/Obaluaê. Que tem o significado de silêncio, o senhor Omolu está aqui. Um sinal de respeito, e de que todos os presentes devem observar a sabedoria e força divina deste Orixá.

Seu dia é a Segunda-feira.

Pode-se ofertar a Omolu/Obaluaê: pipoca estourada (de preferência estourar a pipoca em panela de barro com areia do mar, sem usar sal ou óleo), amendoim torrado, flores brancas (margaridas), água mineral, farofa de mandioca com banana-da-terra (feita no fogo em panela de barro usando-se mel para adoçar).

Saravá meu pai Omolu

Saravá meu Pai Obaluaê

Atotô!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Os negros: a influência fundamental da África na Umbanda e no Brasil


Recebi um email de uma das médiuns de nossa casa, que está como cambone das entidades das quais eu sirvo que me despertou muito para escrever este texto. Falava-me esta filha da necessidade de resgatarmos a importância dos africanos na construção da sociedade brasileira. Relatava, ainda, a como os negros contribuíram de forma decisiva para a nossa música, nossa dança, nossa culinária, a língua que falamos, os esportes como a capoeira e a moda. Por fim dava destaque a contribuição dos negros nas religiões como a nossa UMBANDA e os candomblés.

Quantos de nós realmente sabe a importância dos negros, dos africanos e dos afro-descendentes na formação de nossa cultura, de nossa sociedade e de nosso país?

Para começar acredito que deva introduzir um pouco de história sobre a escravidão em nosso país. O faço com todas minhas limitações, razão pela qual peço perdão antecipado pelos erros, e deixo aqui o pedido para que aqueles que conhecem mais postem comentários me corrigindo e completando este artigo.

Os africanos foram sequestrados e escravizados pelos portugueses e trazidos a força para o Brasil. Isto iniciou no início do século XIV e só veio a se findar em meados do século XIX, foram mais de 300 anos de barbárie e atentado aos povos africanos.

É impossível sequer estimar o número de escravos trazidos pelos navios negreiros ao Brasil. Estudos estimam um número entre 6 a 8 milhões de negros que chegaram a estas terras. Outras centenas de milhares de pessoas morreram nos navios negreiros e foram jogadas ao mar, razão pela qual chamamos o mar de calunga grande.

Desde a sua captura até o momento de suas mortes a grande maioria dos negros não aceitavam a escravidão, e a todo momento lutavam por sua libertação. Inúmeros são os quilombos (locais onde os negros que escaparam dos cativeiros se escondiam e montavam uma sociedade) espalhados até hoje pelo país, e muitos outros foram construídos, numa demonstração de insatisfação diante do pelourinho.

As revoltas que ajudaram o país a ser um Estado independente, e mesmo a proclamação da república só aconteceram pela presença dos negros. Movimentos como o de Canudos, a Inconfidência Mineira, a Guerra Farroupilha, a Cabanada, a Balaiada, entre outras revoltas tiveram a contribuição quase majoritária de negros. Ou seja, nos tornamos independentes pela força e determinação dos negros, nos tornamos uma república pelos braços dos africanos.

Isto não nos ensinam nas escolas, mas basta uma pequena vontade de estudar todos esses movimentos e descobrir quem realmente lutou por um país livre e soberano.

A luta pela independência e pela república também era uma luta pela abolição da escravatura. A Lei Áurea a última de uma série de leis que extinguiria a escravidão no país, só aconteceu pela força de resistência dos negros. Não foi um ato de benesse de uma princesa, ou mesmo um favor dos europeus. Era sim fruto de suor e de muito sangue dos negros e de alguns brancos empenhados nos direitos humanos.

Dentre estes movimentos de libertação, muito é falado de Zumbi, chefe do Quilombo dos Palamares um dos maiores centros de resistência negra que se tem notícia. A ele foi atribuída a data do dia 20 de novembro, data da Consciência Negra. Morreu em 20 de novembro na metade do século XVII, deixando um legado de luta pelos direitos dos africanos e de seus descendentes.

Assim resolvi escrever alguns textos sobre a influência dos negros em nossa sociedade, começo pela religiosidade.

A contribuição dos africanos na nossa religião é enorme, sem esta parcela a Umbanda não seria criada. Os nossos guias chamados carinhosamente de pretos-velhos, são os administradores da Umbanda, nossos gerentes do astral, os que comandam nossa religião. Estes sábios e bondosos guias são a representação de toda a ancestralidade humana, representam aqueles que já passaram na Terra e venceram os desafios, e mesmo assim se apresentam curvados em sinal da mais pura humildade.

Não são poucas as histórias de pretos-velhos, quem se consulta com estas entidades de luz sabe que suas palavras e suas mandingas nos trazem uma paz indescritível, e uma vontade de superar nossos problemas com paciência, mas também com muita persistência.

Em nosso terreiro recebemos também o povo chamado Baiano, que em verdade são os antigos sacerdotes de muitas religiões afro-brasileiras, como a própria Umbanda, o Catimbó, a Jurema, o Xangô de Pernambuco, o Tambor de Mina, o Batuque, Almas de Angola, a Cabula, o Candomblé, seja ele de Ketu, de Angola, de Mina, ou do Jêje, ... . São representações, formas de apresentação de afro-descendentes que professavam uma fé brasileira e que por mais que tenham errado na condução deste ou daquele terreiro, roça, cabana, tenda, mata, etc., estão hoje comprometidos com a lei da Umbanda para trazer luz e sabedoria a todos que a eles se socorrem.

Os nossos Orixás são, a começar pelo nome Orixá, de origem nagô, herança abençoadíssima da África. Diversos partes de nossos rituais são herança dos negros de Angola e do Congo, a nossa percepção de mundo, de cosmogonia se assemelha e se baseia na compreensão dos povos Africanos. O respeito pela natureza, o entender das forças da natureza e a nossa subordinação a estas criações divinas são herança dos negros junto com os nativos de nossa terra brasileira.

A manipulação destas forças da natureza para conseguir ajudar e amparar os necessitados são herança dos índios e dos negros. A hierarquia dos templos de Umbanda, a figura do Pai ou da Mãe de Santo são herança destes povos.

A Umbanda deve muito e não poderia existir sem esta presença cultural, espiritual e científica dos negros.

Os candomblés (candomblé de Ketu, candomblé de Angola, etc.), o Tambor de Mina, o Xangô de Pernambuco, o Batuque (Rio Grande do Sul), as Almas de Angola (Santa Catarina), o Catimbó, o Santo Daime, são exemplos espalhados no país de uma fé baseada em muitos ritos e mitos dos africanos, herança destes ancestrais.

As próprias religiões de matriz européia como a Igreja Católica, muitas igrejas evangélicas, e em especial as pentecostais e neopentecostais, adaptaram seus ritos e seus santos para poderem atrair a população negra brasileira, mostrando a força desta cultura e de seu povo.

Enfim, não existe sequer uma religião no Brasil, que seja aberta, que não tenha de alguma forma uma influência dos negros. A nossa religiosidade enquanto país está enraizada a esta milenar cultura, a cultura dos povos africanos.

Passando depois da questão religiosidade, teremos que reverenciar a influência da África na nossa música. Samba, pagode, blues, rap, hip-hop, reggae, soul, entre tantas outras modalidades são de origem africana. E tantas outras têm raízes fortes dos africanos, como a Bossa Nova, a tropicália, a MPB brasileira como um todo, o chorinho, etc. Sobre a música e a Umbanda já foi publicado em nosso site alguns artigos.

Nossa cultura, nossa forma de viver está impregnada e abençoada com a cultura dos povos africanos, o que nos faz um povo único, rico e cheio de alegria e esperança. Assim, saravá a todos os negros, a todos os afro-descendentes, a todos africanos, saravá a nossa Mãe África.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O efeito multiplicador – energia e magia na Umbanda


Recentemente em visita a um outro terreiro de Umbanda, observei o efeito multiplicador dos atos praticados pelos médiuns em uma casa. Cheguei cedo, trinta minutos antes do início da gira, fiquei sentado em contemplação e observação.


Alguns médiuns já estavam na casa ajudando a arrumar o congá, recepcionando os visitantes e conversando entre si, mas sempre em voz baixa. Imediatamente as pessoas que chegavam ao terreiro abaixavam o tom de voz, iam sentando e conversavam com seus vizinhos de assistência em um volume muito baixo.


Logo depois iniciou-se um silêncio por parte dos médiuns, que estavam se concentrando, ou fazendo seus afazeres, mas em silêncio. Imediatamente a assistência diminuiu ainda mais o tom da conversa e mais, muitos ficaram em silêncio. O dirigente chega, e dá início aos trabalhos. A forma de condução era voltada para a introspecção e assim durante todo o trabalho a assistência observava a gira de forma muito silenciosa e com poucas conversas.


Mesmo quando os pontos eram entoados as pessoas o faziam de forma baixa, e assim quase ninguém da assistência ousava cantar. Depois de um certo tempo alguns médiuns sorriram para a assistência como se os convidassem a relaxarem, e muitos mudaram o ar de concentração para um ar mais relaxado, mais livre.


Quando alguns médiuns começaram a conversar, mesmo que de forma rápida, entre si, imediatamente a assistência também voltava a conversar. Quando as entidades chefes solicitavam a atenção e a força, todos os médiuns se voltavam para a entidade e exalavam sua fé, muitos dos presentes se comoviam, se emocionavam com esta reação.
Findado os trabalhos fui para a minha casa, e comecei a refletir sobre a gira, aprender com os trabalhos daquele terreiro, avaliar minhas práticas e meditar em como melhorar minha forma de conduzir as giras. Mas, entre um pensamento e outro me deparei com o efeito multiplicador da postura dos médiuns em um terreiro.


Assim passei a observar a nossa casa, como nos portamos e qual o efeito multiplicador de nossas atitudes. Em nossa casa por razões diversas estimulo as pessoas a conversarem a darem risada, a relaxarem a se sentiram em casa. Assim os médiuns quando chegam se abraçam e começam a conversar, imediatamente a assistência faz o mesmo, dão risadas conversam, e mesmo aqueles que estão indo pela primeira vez sentem este ar descontraído inicial e não se sentem constrangidos, pelo menos não aparentam isto.


Vou dar início aos trabalhos todos olham para o altar e então de mãos dadas iniciamos nossa gira cantando o hino da Umbanda. A assistência neste momento já se acomodou e as conversas quase que cessaram, todos se voltam para a gira em contemplação.


Quando conversamos sobre a Umbanda no início de cada trabalho, todos prestam atenção, todos querem absorver o conhecimento e assim a assistência também se concentra. Quando tocamos o atabaque e cantamos com devoção e dedicação, em nossa casa todos os médiuns cantam os pontos, concentramos nossas atenções para aquele Orixá, aquela parte do ritual percebo que muitos da assistência começam a cantar e outros ficam acompanhando o ritmo com as mãos, os pés ou a cabeça.
Abrimos para o passe, para a vibração, e todos se voltam para o altar e pedem em pensamento ajuda a todos os que ali estão, a assistência entra e sente este clima de oração e de ajuda. A seriedade e a dedicação contagiam os visitantes.


Mas da mesma forma que os aspectos positivos são contagiantes e multiplicadores, quando há displicência, conversas, desrespeito, muitos da assistência começam a perder o ar de contemplação alegre, e passam a desacreditar ou ao menos não sentir aquela união de força como sentiu anteriormente.
A postura do corpo mediúnico em uma casa é multiplicador dos estados emocionais da assistência, se todos nós percebêssemos este efeito tomaríamos muito mais cuidado com nossos atos e omissões durante, antes e depois da gira.


O corpo mediúnico unido e que segue o ritual de forma disciplinada, que acompanha o estilo de cada casa, já começa fazendo a magia da Umbanda antes mesmo da incorporação e da consulta. Seja em uma casa onde a introspecção e o silêncio são as formas, ou em uma casa em que a alegria e a disciplina em movimento são as regras, o importante é aderir ao tipo da casa de Umbanda, vestir a camisa, sentir a casa como sendo sua e se dedicar para que todos percebam como somos todos sacerdotes, discípulos em busca da fé e da caridade.


Saliento sempre que posso aos médiuns do nosso terreiro que a Umbanda é uma religião cujo ritual é exercido de forma coletiva, aqueles que compõem o corpo mediúnico são os sacerdotes, dirigidos e coordenados por um, mas todos são sacerdotes e como sacerdotes devemos ter a responsabilidade de multiplicar a paz, o amor e a fé. Quando permitimos que o desleixo a desatenção e o desrespeito se multipliquem, estamos indo contra o que pregamos.


Agradeço a Deus e aos Orixás por termos uma corrente que entende sua função como corpo, como corrente em que cada elo é forte e ajuda o outro, e que mesmo diante de nossos erros, procuramos sempre melhorar e corrigir, com tranqüilidade e perseverança. Espero que esta observação que pode ser óbvia para muitos possa fortalecer a nossa casa, e fortalecer todos os terreiros de Umbanda, pois quando nos dedicamos e amamos nosso sacerdócio, e o exercemos com responsabilidade e atenção, seguindo aquilo que acreditamos e fazendo da forma que entendemos mais correta, isto se multiplica, contagia a todos e faz a magia da Umbanda acontecer.

Saravá a todas as correntes de Umbanda, saravá todos os terreiros, saravá todos os médiuns.


Autor: Pai Caetano de Oxossi
Todos os direitos reservados
se for republicar favor citar a fonte, garantir a autoria e não editar sem prévia autorização. Obrigado

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O processo de reencarnação: a gravidez e a ligação do espírito à nova vida material


Antes quero lhe fazer um convite: toda vez que formos debater um tema polêmico dê uma lida no texto que os explica: clique aqui

O tema era para ser o aborto, ou seja, a interrupção voluntária ou involuntária de uma gravidez. Mas, quando comecei a pensar em escrever este assunto imediatamente me veio uma pergunta: quando o espírito desencarnado se liga à matéria? Quando este espírito se liga à mãe e ao embrião? No momento da concepção, no feto ou no nascimento?

Diante destes questionamentos decidi escrever primeiro sobre o processo de reencarnação: a gravidez e a ligação do espírito à nova vida material.

Logicamente que deste tema teremos como base a compreensão que a Umbanda é uma religião espiritualista e assim acredita na vida após a morte, na sobrevivência do espírito após a morte carnal, e na existência do ciclo das reencarnações, ou seja, acreditamos na existência de múltiplos nascimentos e desencarnes.

Para a Umbanda a encarnação, e assim a reencarnação, é a oportunidade sagrada e abençoada de um espírito esquecer seu passado delituoso, seus inimigos, suas desavenças, e de encontrar situações semelhantes às vividas no passado com outra roupagem, uma segunda (terceira, quarta, etc.) chance. Enfim, um método divino de crescimento e iluminação espiritual.

A reencarnação, portanto, é a porta para a nossa remissão, é um dos momentos em que nosso trabalho espiritual se depara com situações semelhantes, que um dia falhamos, para que nossos espíritos aprendam a arte do amor, do perdão, do desapego e da solidariedade, ao mesmo tempo em que aprende a não ser egoísta, orgulhoso, etc.

Diante disto, fica claro que, para nós, a reencarnação é uma oportunidade muito importante para a nossa evolução espiritual, um dos grandes instrumentos para o burilamento espiritual e um caminho intensivo de libertação.

A porta de entrada desta oportunidade é a gravidez. Ou seja, quando em situações normais um homem e uma mulher realizam um ato sexual e o espermatozóide consegue fertilizar o óvulo. Ou, em situações laboratoriais, um cientista introduz um espermatozóide em um óvulo, e depois insere o embrião dentro do útero feminino.

Entendendo que é a gravidez, e assim o nascimento, a porta de entrada para a oportunidade da reencarnação, pergunta-se: quando este espírito reencarnante começa a se fixar no novo corpo?
Os espíritos responsáveis pelo mecanismo da reencarnação (a meu ver trabalhadores de Omolu/Obaluaê) se aproximam da mãe e do pai e apresentam em sonho o novo filho. Estes espíritos começam a viver juntos para que a energia de todos se harmonize a facilite a concepção. (Não se preocupem o momento da relação sexual é um momento privado os espíritos não ficam assistindo)

Após a relação sexual milhares, centenas de milhares de espermatozóides iniciam seu trajeto em busca do óvulo. Em geral apenas um consegue perfurar o óvulo e fecundá-lo.
Por que aquele espermatozóide, no meio de tantos milhares, foi o que fecundou o óvulo? Muitos dirão que ele foi o mais rápido, o mais forte, o que chegou primeiro ao óvulo. E estes vão descobrir que a ciência já demonstrou que não é o primeiro a chegar ao óvulo, nem mesmo o aparentemente mais forte é o que fecundará. O fato de ser este ou aquele espermatozóide que perfurará o óvulo é aleatório.

Mas será que é aleatório? Ou será que aqueles espíritos que estão trabalhando na reencarnação não dão uma “ajudinha” no espermatozóide que trará a herança genética mais apropriada para a nova vida que surgirá?

Será que a escolha deste espermatozóide não obedece a uma lógica que facilitará o aparecimento de doenças, de deficiências, de qualidades, de atributos que virão ao encontro dos propósitos deste novo reencarnante?

Eu acredito que sim, há uma escolha, uma facilitação para que o espermatozóide mais apto a trazer este conjunto de genes que propiciarão as tarefas e as missões que o espírito deverá passar aconteça.

Se você já começou a concordar comigo já percebeu que antes mesmo da fecundação, ou seja, da existência de um embrião, há a aproximação do espírito que irá reencarnar, pois a própria seleção do espermatozóide vencedor se dá para que a missão daquele espírito reencarnante aconteça nos moldes traçados pelos Orixás.

Para contribuir para o entendimento deste pensamento: por inúmeras razões kármicas a pessoa deveria nascer portadora de uma deficiência física, deveria ser portadora de algumas doenças genéticas, ser médium, ser alto, ser baixo, ter problemas em determinados órgãos, ser mais apto as ciências exatas, mais apto nos reflexos, ser esportista, não ter um órgão, ter um dom, ter um QI elevado ou reduzido, etc. Como é que isto é feito para garantir uma reencarnação adequada à evolução daquele espírito?

Começa, em minha opinião, na escolha do espermatozóide e do próprio óvulo, pois são eles que carregarão a herança genética e assim um conjunto de atributos e características físicas.
Mas, você não concorda comigo, afinal você não gosta de genética, não acredita na escolha do espermatozóide, ou simplesmente não ficou convencido. Vamos então seguir entendendo que o espermatozóide que perfurou o óvulo foi fruto de uma ação aleatória.

O espermatozóide ao adentrar no óvulo se funde ao mesmo criando o ovo, o embrião. Este ovo é uma célula que imediatamente começa a se dividir, se divide de forma frenética, de uma única célula em pouco tempo já são milhares de células.

Nesta divisão celular, em que já se tem o embrião, há a presença do futuro encarnado? Já se iniciou a ligação entre este espírito e seu futuro corpo? Se você como eu acredita na escolha do espermatozóide a resposta já está dada, mas se você não acredita tem que concordar que neste momento o espírito tem que estar presente.

Porque tem que estar presente? Porque nestas divisões celulares começa-se a criar o novo ser. E assim algumas células serão o sistema nervoso, outras os ossos, e assim por diante. Logicamente aqui também já se começa a propensão para os defeitos e para as aptidões. Se este novo ser tiver que ser portador da síndrome de Down, já no início das divisões celulares há a duplicação de um par de cromossomos. Se ele terá uma perna muito mais curta que a outra, se ele tiver um cérebro dotado para as artes plásticas, etc., tudo já começa na divisão e na especialização das células no embrião. Somente com a presença deste espírito é que as características de sua vida serão traçadas.

Imagine se fosse o contrário. Se a mãe gerasse um feto que não tivesse as mãos. No momento do nascimento os espíritos iriam buscar um espírito para encarnar com estas condições? Seria aquele que estivesse passando por perto? Seria alguém sem nenhuma ligação com a família? Não, certamente que não, pois esta deficiência terá uma razão de reparação kármica para o novo encarnado e para a sua família e não um ato caótico sem razão.

Neste argumento começamos a perceber que os novos encarnados têm uma relação com a família, seja ela de amizade, de amor, ou mesmo de inimizade, ocasião em que a reencarnação permite o resgate entre estes espíritos.

Além dessas razões vamos a outras: depois de nosso reencarne teremos a aparência muito semelhante a que possuímos atualmente. Para renascermos devemos abrir mão desta forma e adotarmos a forma de um bebê. Como isto se processa? De uma hora para outra? Um choque? Certamente que isto faz parte de um processo em que junto com o desenvolvimento do feto vamos nos adaptando a nova forma física, vamos nos religando a matéria, pouco a pouco, de forma gradual. Vamos criando uma ligação com a matéria e vamos entrando em uma espécie de sono, suspendendo nossa memória, esquecendo nosso passado, nossa última reencarnação, ou nossas últimas reencarnações, para que possamos iniciar tudo de novo e termos a oportunidade de aprender novamente.

Neste processo vamos recebendo o impacto da energia de nossas mães, de nossos pais e de nossos familiares. Já está provado pela ciência do homem encarnado que as alterações emocionais, psicológicas da mãe afetam o desenvolvimento físico e mental do filho. Psicólogos estão defendendo teses em que alguns traumas psicológicos são trazidos de momentos traumáticos e tensos durante a gravidez. E estas pessoas não são espiritualistas, ou seja, não acreditam nas reencarnações, mas acreditam que a personalidade pode começar a se formar no útero materno. Se a personalidade começa no útero (para nós é uma sequência de vidas) é certo que o espírito já estava ligado ao feto, uma vez que a personalidade não é material, e sim espiritual.

Com todas estas informações e estes argumentos quero demonstrar que tenho uma convicção que a ligação do espírito reencarnante na matéria começa muitas vezes antes da própria concepção, e sempre começará ou seguirá no momento imediato da fecundação do óvulo pelo espermatozóide.

Este tema permitirá que possamos debater o aborto e outras práticas provocadas durante a gravidez. Mas isto é assunto para outro artigo.

Fiquem a vontade para questionar, discordar, debater. O tema traz para nós muitas dúvidas, e como sempre os guias nos falam: as dúvidas devem servir para enraizar nossa fé. Portanto fico a disposição para discutirmos o tema.


Saravá



autor: Pai Caetano de Oxossi
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quinta-feira, 8 de abril de 2010

Falando sobre cultura - Música 3ª parte - os primeiros sambistas


Seguindo nossos textos culturais, Umbanda também é cultura, trago hoje um pouco dos compositores do início do século passado, os fundadores, os criadores do nosso bom e velho samba.

Estes compositores homenagearam os Orixás, as giras, as entidades, e seus sacerdotes. Todos os citados neste texto são considerados os pais do samba.
O samba, que é um gênero musical nascido no Brasil, é também o nome que damos a música em nossos terreiros, ou seja o samba de terreiro. Em algumas casas, inclusive, o responsável pela música é chamado de samba, de Ogã de Samba, ou capitão de samba.

A maioria das músicas não foram remasterizadas, mas podem ser encontradas em alguns sites. Entre estas porém, encontramos algumas que já foram dezenas de vezes regravadas, como é o caso de Feitiço da Vila. Uma cantora que gravou estes compositores foi Clementina de Jesus (têm um CD dela cantando as músicas de João da Baiana).

Interessante nestas músicas é saber que muitos desses compositores freqüentavam as casas das Tias do Rio de Janeiro. Estas casas eram locais onde a gastronomia, a religião e a música estavam sempre conectadas com a África. João da Baiana e Donga, por exemplo, eram filhos ou parentes destas senhoras que foram grandes mulheres e que resistiram a força policial, e a repressão do Estado.

Na época destas composições a polícia literalmente considerava qualquer batuque arruaça, entrava, quebrava os instrumentos e prendia os sambistas.

João da Baiana conta que um dia conheceu um senador e falou para ele que estava cansado de perder seus instrumentos. Então o senador deu a ele um pandeiro. Toda vez que a polícia baixava, João dizia "este pandeiro é do senador quer quebrar??" E então sempre tinha seu pandeiro intacto. Parece que algumas coisas não mudam com o tempo, não é verdade?

Existe um samba chamado Delegado Chico Palha, cantado por diversos sambistas da atualidade que retrata a figura de um policial na época destas composições, e podem dar a noção do que se passva com o samba, a Umbanda e o Candomblé no início do século passado.

“Mas, apesar do preconceito, o sucesso era perfeito, quando o Samba ia para a cidade.” (diz um samba cantado por Zeca Pagodinho). Graças a estas casas das Tias, a estes sambistas, e tantos homens e mulheres que bravamente resisiram a tudo isto que temos hoje a nossa Umbanda e o nosso Samba.

Façam um bom proveito, pois estas modas de samba são muito inspiradoras.

Saravá a curimba, a Ngoma (engoma), saravá o samba de terreiro.

Aque os Orixás possam abençoar estes sambistas de outrora que deixaram um legado a todos nós.

Nome da música – (compositores)
  • Já andei (Pixinguina, Donga e João da Baiana)
  • A Bahia te espera (Herivelto Martins, Chianca de Garcia)
  • Canjiquinha Quente (Sinhô _ José Barbosa da Silva)
  • Carga de Burro (Sinhô)
  • Eu tenho um burro (Sinhô)
  • Feitiço Gorado (Sinhô)
  • Alodê (Príncipe Pretinho cantado por Ataulfo Alves)
  • Cosme e Damião (Heitor dos Prazeres)
  • Iemanjá (Heitor dos Prazeres)
  • Amalá de Xangô (João da Baiana)
  • Babalaô (João da Baiana)
  • Banho de Ervas (João da Baiana)
  • Cosme e Damião (João da Baiana)
  • Lamento de Inhaçã (João da Baiana)
  • Lamento de Oxum (João da Baiana)
  • Lamento de Xangô (João da Baiana)
  • Macumba de Mangueira (Almirante)
  • Caboclo do Mato (João da Baiana e Getúlio Marinho)
  • Homenagem a Oxalá (João da Baiana)
  • Feitiço da Vila (Noel Rosa e Vadico)

domingo, 4 de abril de 2010

Nova sede do TULAP

No dia 27 de março inauguramos a nossa nova sede. Após quase cinco anos no bairro Bigorrilho em Curitiba, mudamos para o Bairro Alto.
A mudança foi necessária uma vez que o espaço anterior já não comportava todos nós. Há mais de um ano as entidades vinham solicitando a mudança, que agora se concretizou com muita alegria e energia.

Esta fase que passamos de mudança foi extremamente importante para mim. Me emocionei muito, e tenho certeza que muitos dos dias que passamos na mudança ficarão impregnados em minha memória.

Ao fechar meus olhos e ver as pessoas suando a camisa para construirmos nossa nova sede, usando seu tempo livre, suas horas de folga para construirem algo em prol de uma coletividade, foi algo muito lindo.

Ver os filhos do terreiro unidos em um só propósito, martelando, pintando, movendo terra, etc., com certeza me trazem muita energia para continuar minha jornada na Terra.

Mas, não posso deixar de fora as pessoas da assistência que de forma desprendida estiveram em todos os momentos, e sem elas nossa tarefa seria muito, mas muito mais difícil. Parava olhava para estas pessoas e agradecia de coração. Mas logo era repreendido, falavam para mim que não tinha nada do que agradecer, se estavam ali é porque queriam, e o faziam por alegria e devoção.

Estas imagens, e é claro toda a energia e toda vibração do dia da inauguração me recarregaram para mais inúmeros anos de trabalhos na Umbanda.

Na inauguração falei a todos que me sentia como se acabasse de ter sido feito Pai-de-Santo, pois estava, e estou, cheio de energia e disposição para os trabalhos da nossa Umbanda.

E se isto tudo aconteceu foi porque todos perceberam que o terreiro é nosso, não é meu, não é da corrente, e sim de toda a nossa coletividade. Mais do que em palavras vocês mostraram isto na prática. Não tenho palavras para externar quanto isto é mágico e quanto isto representa um presente para mim.

Muito, mas muito obrigado!

E a todos que ainda não conhecem nossa nova casa vai um convite, vamos celebrar juntos a Umbanda, vamos juntos encontrar uma saída e uma cura para nossas chagas.

Como disse o Caboclo das Sete Encruzilhadas, que todos os espíritos sejam bem vindos, encarnados ou desencarnados, não importando sua condição social, seu sexo ou opção sexual, não importando sua religião ou sua etnia, seja você branco ou negro,. Sejam bem vindos e que os Orixás possam trazer a todos nós muita LUZ, AMOR e PAZ.

Saravá a Cabana do Pai Tobias de Guiné.
Saravá a casa do Sr. OXOSSI
Saravá a gira do Caboclo Mata Virgem
Saravá a proteção e bençãos do Sr. Exu Marabô.

Saravá a todos que tiveram a caridade e o amor de auxiliar na construção desta casa. A vocês com todo meu carinho e respeito eu bato a cabeça.

ENDEREÇO:
R. José Fernandes Maldonado, 255-A - Bairro Alto - Curitiba
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Quais são os Orixás da Umbanda, e quantos são?


Quais Orixás são cultuados na Umbanda? Por que estes Orixás? Quantos são?

Estes questionamentos acompanham a todos nós umbandistas. Desde aqueles que estão chegando a conhecer a Umbanda hoje, como aqueles que têm mais tempo de Umbanda que nós de vida.

Muitos autores, pais e mães-de-santo responderam estes questionamentos. Mas, dificilmente encontraremos a mesma resposta nas várias correntes de Umbanda.

Uma coisa certa é que há cinco Orixás incontroversos, ou seja, estão presentes em todas as matizes e correntes de Umbanda, são eles:

Oxalá, Xangô, Yemanjá, Ogum e Oxossi.

A diferença então reina em quantos são e quais são os demais.
Na grande maioria das casas, e das correntes de pensamento, teremos o número sete como um número limitador destes Orixás. Assim teremos os cinco já mencionados e outros dois Orixás.

Entretanto todos os autores, de alguma forma, acabam tentando incluir nestas duas “cadeiras” vagas pelo menos mais quatro Orixás: Omolu/Obaluaê (Yorimá), Nanã, Iansã (Oyá) e Oxum, outros ainda trazem um quinto para a “disputa” pelas duas vagas, o Orixá Ibeji (Yori). O que fazer diante deste dilema?

Assim uns criaram os Orixás menores, outros os raios onde em cada raio poderia haver mais de um Orixá, outros 7 pares de Orixás, entre outras engenharias para ampliar o número de Orixás, ampliando o número de 7.

Por fim encontraremos casas e autores que não se limitam ao número 7, e que simplesmente resolvem o problema com um número maior de Orixás. Nestes casos é mais comum encontrarmos 9 Orixás.

Dado o problema, a polêmica, como resolvemos isto em nossa casa?

Para responder esta questão tenho que trazer aqui como em minha raiz esta questão está posta.

Por minha raiz entendam a tradição das casas que antecedem a minha e das quais saíram os pais e mães-de-santo. Cultuam-se como Orixás os cinco incontroversos (Oxalá, Ogum, Oxossi, Xangô e Yemanjá) e Iansã e Oxum. Nesta composição acredito que há um equilíbrio muito bonito e porque não, de certa forma, perfeito. Temos os Orixás masculinos Ogum, Oxossi e Xangô; e femininos Yemanjá, Iansã e Oxum. E por fim temos Oxalá unindo o lado maternal e o paternal de Deus.

Em nossa casa temos estes Orixás cultuados.

Mas e Omolu/Obaluaê e Nanã? São Orixás? O que são?

Esta foi uma questão que em minha preparação para assumir o Terreiro de Umbanda Luz, Amor e Paz, Cabana do Pai Tobias de Guiné, como uma das mais importantes.

Poderia eu abrir mão do número 7? Não seriam sete os momentos da criação e assim sete não seriam os Orixás? Não são sete as linhas da Umbanda?

Para incrementar o problema devo dizer que minha relação com o Sr. Omolu/Obaluaê é muito forte e estreita, acredito, como acreditava, que nenhum Orixá, dos mencionados, trazia em si as forças e os axés do Sr. Omolu. Nenhum dos 7 Orixás representava como seu ponto de força a terra, bem como nenhum dos Orixás apresentava características que tratavam da vida e da morte carnal como Omolu e como Nanã.

Assim, pedi para os Orixás, por meio das entidades, que trouxessem uma resposta a este meu anseio. E a resposta que me veio foi a que hoje apresento a todos.

Os Orixás que assumem a cabeça de um filho são sete, pois sete são os momentos da criação, sete é o princípio universal da união entre a matéria (quatro ou princípio quaternário) e o espírito (três, ou princípio ternário ou trino, ou ainda a trindade divina). Assim em minha casa assumem a cabeça de um filho Oxalá, Yemanjá, Oxum, Ogum, Xangô, Iansã e Oxóssi.

Mas, cultuamos como Orixás o Sr. Omolu/Obaluaê e Nanã Buruquê. São Orixás, ou seja, são manifestações, emanações e qualidades diretas de Deus.

Em nossa casa 9 são os Orixás cultuados, porém 7 são os Orixás que assumem a cabeça de um filho ou de uma filha. E isto em nada desmerece ou muda o culto a estes Orixás, são emanações de Deus, e como tal não existe um mais importante do que outro.

Saravá as 7 linhas da Umbanda, saravá os 9 Orixás da Umbanda.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Preconceito religioso e ser umbandista


Infelizmente ainda vivemos em uma sociedade que tem por hábito julgar, condenar e decidir qual o padrão que todos devem seguir. Assim raças, etnias lutam entre si, afirmando uma ser superior a outra; pessoas mais bem remuneradas acreditam que são ricas por competência e dedicação, quem é pobre é porque é vadio, ignorante e preguiçoso; hetero e homossexuais discutem sobre opção sexual; homens e mulheres, etc.

Entre as formas de preconceito e discriminação encontramos o religioso. Como nos portamos diante deste preconceito? Como devemos atuar?

Fui levado a escrever sobre este tema, pois tive algumas experiências nos últimos dias que me fizeram relembrar histórias pessoais. Assim, quero compartilhá-las primeiro, para depois tentarmos juntos responder o questionamento acima.
Eu trabalhava com um grupo de pessoas extremamente ligadas a uma outra religião, e que não tinham bons olhos para as religiões espiritualistas, aliás não tinham bons olhos para com nenhuma outra religião. A não ser por mim todos eram desta outra religião.

Por alguma razão nunca me abordavam sobre minha opção religiosa. As poucas vezes que me abordavam eu desviava do assunto, ou respondia que era espírita.
Entretanto chegou um momento em que tinha decidido aceitar me preparar para o sacerdócio, para ser feito Pai-de-Santo. Foi então que me perguntei:

- “como responderei aos questionamentos agora em diante? Se falar que sou Umbandista perderei o meu emprego? Perderei a confiança dos demais?”

Quando faltavam uns 30 dias para a minha feitura, mais ou menos, recebi intuitivamente a resposta do meu dilema. Se aproximava o Pai Tobias de Guiné, um preto-velho, e assim me contava uma história por meio de imagens e pensamentos:
Quando Jesus morreu na cruz, sacerdotes de outras religiões, os romanos, e muitas pessoas queriam provar a todos que Jesus era um louco e morrera como tal. A crucificação, o calvário, foram para humilhar, para demonstrar que aquela postura não era bem vinda. Pretendiam matar e enterrar não apenas Jesus, mas o que ele representava para a humanidade.

Tão forte foi a perseguição que Jesus afirmou que um dos seus mais fiéis apóstolos iria negá-lo, e assim Pedro negou Jesus por três vezes.

Mas, Pedro passou a pregar as palavras de Jesus, assim como os demais apóstolos, e milhares e milhares de pessoas continuavam ou começavam a seguir os ensinamentos do Mestre Jesus. Roma, sentindo-se ameaçada, começa uma caça aos cristãos, prendia-os, açoitava-os, matava-os. Muitos serviam de diversão nas arenas e circos romanos, onde eram devorados por leões, e outros animais, eram assassinados por gladiadores em praças. Mas poderiam evitar a morte, o sofrimento, bastava negarem Jesus, bastava para isto deixar de acreditar em Jesus. Mas, estes homens e mulheres não negaram, não renegaram, pelo contrário assumiam suas condições de discípulos, e começavam a rezar, a demonstrar a sua fé naquele momento tão desesperador.

O que seria da história que conhecemos hoje sobre o cristianismo se não fossem os seguidores de Jesus? Se estes primeiros cristãos tivessem negado Cristo será que hoje teríamos a dádiva de conhecê-lo, de termos este mestre como exemplo?

Por fim, já em lágrimas, pois as imagens eram fortes e muito intensas, este humilde servo de Deus, dos Orixás e de Jesus Cristo, chamada Tobias, me falou assim:
Será que você será jogado aos leões? Será que você receberá a tortura? Será que morrerá?

O meu maior perigo era perder o emprego, receber um pouco de aversão ou de desrespeito dos demais. Assumir minha condição de umbandista poderia ajudar a quebrar o preconceito, mostrar a Umbanda, e lutar para que as pessoas percebessem que não importa o caminho (religião), mas sim o destino (iluminação pelo amor).

Não bastava para isto falar que era espírita, afinal espiritismo é outra religião. Era preciso assumir minha condição de Umbandista. Então, decidi, se me perguntarem falarei a verdade.

No outro dia mais de três pessoas do trabalho me questionaram. Coincidência, não é mesmo. E minha resposta foi que era umbandista, muito envergonhado e ainda tímido. A reação foi absolutamente positiva, os três queriam ir visitar o terreiro, conhecer a Umbanda.

Tive depois problemas com o trabalho, e alguns desentendimentos sérios com o meu chefe, mas o fato de ser umbandista não foi o principal motivo.

Aprendi que se não fizermos de nós exemplos para a nossa sociedade, instrumentos desmistificadores da Umbanda teremos por muito mais tempo o preconceito. Quando assumimos a Umbanda como a nossa fonte de fé, com certeza iremos sofrer preconceitos, mas também seremos instrumentos para que a discriminação um dia acabe.

Sei que para alguns assumir a condição de umbandista é muito difícil, mas o dia que estiver preparado e fizer perceberá como cada um de nós pode contribuir para uma sociedade mais solidária, e sem preconceitos.

Que os Orixás possam iluminar a todos, e que possamos todos trabalhar com esta luz para trazermos respeito, paz e solidariedade em nossa Terra.

Saravá, sou umbandista, com amor, com fé, e por isto agradeço a Deus, aos Orixás e a todas as entidades.