quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Mitologia dos Orixás - Exu e Oxalá


Como já falamos a mitologia nos ajudará a entender, por meio de mitos e lendas, o que cada Orixá faz, seu papel, etc.
Assim, antigamente se contava uma história (ou estória!) para revelar alguns atributos de Exu e ao mesmo tempo de Oxalá.

"Exu, sempre curioso e querendo saber de tudo, foi ver o que Oxalá (no conto original recebe o nome de Obatalá) estava fazendo em sua casa. Pela janela Exu observou que Oxalá moldava um barro, com formas e detalhes diferentes. Percebeu que Oxalá estava cumprindo a missão que Olorum (Deus) tinha lhe dado: criar o homem e a mulher. Maravilhado diante da perfeição e do carinho, Exu ficou a observar dia e noite aquele trabalho. Passou 16 anos observando o trabalho de Oxalá. E percebeu que sempre Oxalá era interrompido com presentes que outros seres lhe traziam. Oxalá chamou Exu e lhe pediu que ficasse na encruzilhada e que de lá não passasse ninguém, que ele, Exu, receberia os presentes e depois os entregaria a Oxalá. E assim foi Exu para sua tarefa. Na encruzilhada chega o primeiro e logo é advertido que somente ele, Exu, poderia passar dali, e ele levaria os presentes e os pedidos para Oxalá. No final de cada dia levava os presentes para Oxalá. Oxalá que viu a competência de Exu, o sossego para que seu trabalho rendesse, determinou: a partir daquele dia ninguém poderia fazer oferenda a ele, Oxalá, sem antes entregar para Exu. Assim Exu ficou sendo o rei da encruzilhada, e o mensageiro dos Orixás."

Desta lenda podemos verificar como os nossos ancestrais passavam de uma geração a outra a natureza de Exu. Ou seja, para se chegar até os Orixás precisamos de um mensageiro, alguém que possa levar nossos pedidos para os Orixás, e esse alguém seria Exu. Mostra também como ele é o senhor da encruzilhada. Mostra como Oxalá é o senhor da raça humana, por isso é o senhor da fé e da razão. Mostra como Exu é o guardião; 16 anos passaram-se e Exu não arredou o pé da porta de Oxalá, isto para que ele pudesse criar os seres humanos com as bençãos de Olorum, com proteção. E como em nossos ritos devemos saudar antes Exu, não pelo medo, mas sim por gratidão.

Desvendar estas histórias e lendas nos faz admirar cada vez mais nossos ancestrais africanos, sua sabedoria e sua explicação milenar para nossos cultos atuais e revelar mistérios que hoje nos rondam.

Saravá a todos os Pretos-velhos, nossos mestres e queridos ancestrais. Babaê os Pretos-velhos.

Saravá Exu. Laroiê Exu, Exu é Mojubá!
Saravá Oxalá. Epa Babá Oxalá!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Poder das ervas - II - as ervas dos Orixás


Dando continuidade a este tema tão importante para a Umbanda vamos falar sobre as ervas e os Orixás.

Para a Umbanda o mundo, a natureza e assim as ervas são criações divinas e assim dos Orixás. Assim como encontraremos em nossas casas filhos e filhas de Oxossi, de Yansã, etc., as plantas também são de domínio de um ou de mais de um Orixá.

Quero dizer com isto que cada uma das ervas pertence a um Orixá. Guiné, samambaia, capim limão são de Oxossi. Isto quer dizer que as ervas além das inúmeras propriedades químicas, biológicas e astrais/espirituais, terá o poder de trazer energias e forças de um Orixá ou de mais de um.

No tópico Orixás deste nosso site há uma relação das ervas de cada Orixá. Algumas ervas trazem dois ou mais Orixás. Por exemplo, o Salgueiro Chorão pertence a Oxossi e a Ogum, a Sálvia a Oxalá e a Ogum, a samambaia nativa pertence a Oxossi e a Oxum e o Alecrim a Oxalá e a Oxossi.

Outras ervas apesar de serem de determinado Orixá podem servir para banhos de imantação e descarrego de filhos de outros Orixás. Por exemplo a alfazema é de Oxalá, mas serve para os filhos de Oxalá, de Oxum, de Yemanjá e de Yansã.

Mas você poderá me perguntar para que eu preciso saber se determinada erva é de um ou de outro Orixá? Ou então para que eu preciso saber se uma erva de um Orixá pode ser usada para outros fins?

A resposta é simples: muitas vezes nos deparamos com a necessidade de trazermos para perto de nós a força de um determinado Orixá, ou então estamos carentes de uma determinada energia, ou ainda em um local, em uma casa, se faz necessário a presença mais marcante de uma energia. Para isto é importante saber qual erva é de qual Orixá.

Além disto em nossa casa os médiuns após terem feito sua primeira iniciação, o amaci, eles devem tomar seus banhos de descarrego e imantação com as ervas de seus Orixás. Isto pois acreditamos que este banho fará o re-equilíbrio das energias desse médium ao passo que traz energias puras dos Orixás por meio das ervas, fazendo com que os corpos astrais possam ser abençoados com as energias criadoras dos Orixás.

Ainda com relação à importância deste tópico, em muitas consultas, em muitas ocasiões, saber quais são as ervas facilitará o trabalho dos nossos guias. Por isso, o primeiro passo é saber quais são as ervas de cada Orixá, e um pouco de suas propriedades.

No próximo texto sobre o assunto vamos falar sobre as ervas de uso geral, ou seja, que servem como coringa, que servem para quase todas as pessoas, a arruda, o alecrim e a guiné.

Saravá as ervas, a elas os nossos respeitos e a nossa gratidão aos Orixás pela dádiva de entrarmos em contato com suas energias por estas ervas.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

A mitologia dos Orixás: uma introdução


Muitas vezes quando entramos em sites de Umbanda ou de outras religiões que possuam uma matriz africana nos deparamos com histórias dos Orixás como se fossem espíritos encarnados em algum tempo em nossa Terra. A mitologia nos mostra de forma simples algo profundo e complexo. Assim para que possamos começar a trazer e interpretar estas histórias, tão belas, se faz necessário esta introdução.


Primeiro temos que entender o que significa o termo mitologia. Mitologia é o estudo dos mitos, ou seja estudo da cultura e das lendas de determinada nação/região/população. É, assim, o estudo das histórias populares ou religiosas de uma cultura. Normalmente é uma narrativa em que se usa uma linguagem simbólica, buscando retratar a origem da vida, das crenças, de Deus, dos Orixás, dos espíritos, daquela cultura ou daquele povo bem como de seus costumes. Geralmente é um artifício, um instrumento usado por todas as culturas para ensinar assuntos complexos e difíceis. Estes mitos acabam por tentar retratar o mundo antes da vida humana.


Assim podemos dizer que a história de Adão e Eva, Caim e Abel, as parábolas de Jesus Cristo fazem parte da Mitologia Judaico-Cristã. Histórias de Júpiter, Marte, Mercúrio fazem parte da Mitologia Romana. História de Vênus, de Zeus, de Posseidon, são da Mitologia Grega. Shiva, Brahman, entre outros são da Mitologia Hindu. Tupã, Nande Jarí, Pa’i Kuara, Jasy, são da Mitologia Guarani (Guarani Kaiova). Oxalá, Oxossi, Xangô entre outros da Mitologia Yorubá. NZambi, Pombo Ngira, entre outros da Mitologia Bantu.


Enfim muitas são as histórias muitas são as ulturas que aparentemente tão distantes e diferentes contam, com nomes diversos, mesmas verdades. São a prova de nossa ligação, de nossa irmandade e de como muitas destas histórias retratam a nossa origem e o mundo astral, espiritual.


Diante disto passaremos a trazer algumas destas histórias, da mitologia Yorubá especialmente, e tentaremos interpretá-las, algumas outras vezes compará-las. Assim se você conhece alguma história, algum conto da mitologia Yorubá ou de outras mitologias e quer ver publicada em nosso site, e como interpretamos essas histórias, envie-as para nós.


Para finalizar esta nossa conversa de hoje quero tentar dividir em tópicos a Mitologia para que possamos estudá-las melhor. Algumas contarão e traduzirão as características dos filhos dos Orixás, ou seja os arquétipos dos Orixás. Outras tratarão sobre os “poderes” dos Orixás, suas forças, seus elementos de magia e domínio. Ainda outras trarão a origem da vida, dos espíritos, da morte, do universo. Tentaremos trazer algumas histórias para cada uma dessas três divisões.


Um grande abraço, que a Luz dos Orixás possa estar com cada um de nós, e que com a permissão de nossos ancestrais possamos desvendar cada vez mais os mistérios da Umbanda. Muito axé, saravá a todos.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Mediunidade na Umbanda - Parte 3 de 4


Depois de entendermos que a mediunidade se manifesta e pode ser perceptível de várias maneiras, e entendermos que os médiuns são intermediários, tradutores das mensagens de outros planos astrais, passamos a estudar os tipos de médiuns.

Os médiuns podem ser classificados em conscientes, inconscientes e semi-conscientes.

Os médiuns conscientes são aqueles que percebem de forma plena tudo enquanto estão em exercício da mediunidade. Assim vão se lembrar do que viram, ouviram, escreveram, etc.. Mesmo durante a incorporação estarão com o pleno domínio de suas faculdades materiais, podendo interferir a qualquer momento na manifestação mediúnica. De uma forma geral todos os médiuns de Umbanda começam suas incorporações de forma consciente. Alguns com o passar do tempo passam a ser semi-conscientes.

Os médiuns semi-conscientes são aqueles em que apesar de lembrarem de suas manifestações, perdem em muito a noção de tempo, não têm 100% do domínio de sua fala e corpo. Mas isto não quer dizer descontrole, apenas que os movimentos são feitos e as falas professadas e a escrita realizada de forma simultânea, como se assistissem seu movimentos.

Os médiuns inconscientes são aqueles que durante as atividades mediúnicas perdem completamente a consciência, como se dormissem um sono profundo. Não há qualquer vestígio de memória no período da manifestação. Este tipo de médium é muito raro e está fadado a extinção, pois o importante é que o médium durante seu trabalho possa também receber os ensinamentos. Além da garantia que se tem contra as mistificações.

Na psicografia e na pintura/escultura mediúnica poderá ainda existir outra forma de médiuns que são os médiuns mecânicos, que apesar de manterem sua consciência estarão escrevendo ou pintando sem sequer ter noção do que estão fazendo. É como se os braços ou pés se movimentem sem a vontade mental do médium.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Mediunidade na Umbanda – Parte 2 de 4


Seguindo nossa abordagem sobre este tema tão interessante, é preciso darmos ao menos uma pincelada sobre os tipos de mediunidade.

A mediunidade poderá se manifestar de inúmeras formas, ou seja poderemos perceber e entender a atividade mediúnica das seguintes maneiras:

a) A intuição, a mais primária e primordial manifestação da mediunidade. A intuição é quando captamos de uma outra inteligência de uma outra mente que não a nossa alguma informação ou aviso. É aquela voz que se forma no fundo de nossas mentes, uma idéia relâmpago, que do nada surge, mas que sabidamente parece que nos foi assoprada.

Um exemplo da intuição se deu comigo: em uma ocasião eu e minha esposa, na época minha namorada, estávamos parados no sinal vermelho em uma ladeira. Um pouco antes do sinal abrir veio uma vontade de deixar o carro descer de ré a ladeira, e assim o fiz. Parei, e como se algo me dissesse demorei alguns segundos para arrancar o carro quando o sinal abriu. Mas foi o suficiente para evitar um grave acidente. Um veículo grande furou o sinal em alta velocidade. Se eu não tivesse deixado o carro descer, ou mesmo se arrancasse imediatamente ao ver o sinal verde, muitas coisas estariam diferentes hoje. Saber ouvir e interpretar estes pequenos avisos é um dos grandes desafios de todos nós. Quem não tem uma história parecida que antes de fazer alguma coisa não escutou um aviso e não deu bola e algo aconteceu?

b) Outra forma da mediunidade é a própria percepção sensorial, a sensibilidade. Ou seja, é a capacidade de sentirmos a presença de outros espíritos, de sentirmos as energias, e que tipo de energias estão naquela localidade naquele momento. É aquela situação em que entramos em uma casa e apesar de tudo estar bonito, organizado, algo nos oprime, nos angustia, pesa em nossos ombros e cabeças. Ou então quando adentramos em local que apesar de estranho, e desajeitado sentimos uma paz, um conforto, uma força positiva nos inundando. Ou então quando vamos ao mar e sentimos sua força, adentramos nas matas, ou adentramos num açougue, numa festa mais radical. Quem percebe estas diferenças possui uma sensibilidade mediúnica.

c) A vidência. Vidência é a capacidade de enxergar, de visualizar os espíritos, seres ou objetos de outros planos. É aquela forma de mediunidade que muitos temem, se apavoram e pedem para não ter com medo de encontrarem em suas camas e quartos outros espíritos. A vidência é assim a capacidade de visualizar o outro plano. Digo visualizar porque a vidência poderá ser mental (formação das imagens, dos espíritos, etc. na mente, não precisando a pessoa estar de olhos abertos) ou então poderá ser expressa pelos olhos físicos, ou seja a pessoa vê, enxerga o outro planos como enxergamos este texto no computador ou no papel.

d) A clarividência, é assim uma especificidade da vidência, que pode ser entendida como a capacidade de enxergar situações que acontecerão no futuro.

e) A psicografia, ou a mediunidade da escrita é outra forma. São aqueles momentos em que os médiuns por meio de caneta, lápis e papel e hoje alguns por meio do próprio teclado do computador, conseguem dar vazão a idéias e pensamentos, conseguem descrever situações, orações e acontecimentos ditados por outros seres.

f) A psicofonia, ou a mediunidade da fala. Ou seja, a mediunidade que se expressa por meio das cordas vocais. O médium descreverá, ou passará os pensamentos dos espíritos por meio de sua fala.

g) A mediunidade de materialização ou de efeitos físicos, ou seja a capacidade de dar forma visível e palpável a objetos, energias e espíritos de outros planos, ou mesmo a capacidade de desmaterializar, ou seja de fazer com que determinado pedaço de matéria deixe de existir. É a mediunidade usada nas curas físicas, ou nas aparições coletivas.

h) Ainda existirá a mediunidade das pinturas, composição de músicas, escrita direta, entre outras formas que não são tão usuais na Umbanda.

i) E é claro a mediunidade de incorporação, que não é o mesmo que psicofonia, pois é a capacidade de se permitir que um espírito use seu corpo (movimentos) e sua fala de uma só vez. A mediunidade de incorporação é a mais usual e facilmente identificada em um terreiro de Umbanda.

Percebam que eu me dirijo a formas de mediunidade e não de médiuns. Não se pode dizer que existam médiuns videntes, médiuns de incorporação, e assim por diante. Médium é médium, poderá sim ter mais facilidade para praticar e exercer uma determinada mediunidade, mas em algumas situações ou em alguns momentos da vida poderá ver surgir outras formas de mediunidade. Pois como ser médium é ser um intermediário, a forma como isto se dará não é o mais importante, e poderá ser alterada durante uma jornada na Terra.