segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Os negros: a influência fundamental da África na Umbanda e no Brasil


Recebi um email de uma das médiuns de nossa casa, que está como cambone das entidades das quais eu sirvo que me despertou muito para escrever este texto. Falava-me esta filha da necessidade de resgatarmos a importância dos africanos na construção da sociedade brasileira. Relatava, ainda, a como os negros contribuíram de forma decisiva para a nossa música, nossa dança, nossa culinária, a língua que falamos, os esportes como a capoeira e a moda. Por fim dava destaque a contribuição dos negros nas religiões como a nossa UMBANDA e os candomblés.

Quantos de nós realmente sabe a importância dos negros, dos africanos e dos afro-descendentes na formação de nossa cultura, de nossa sociedade e de nosso país?

Para começar acredito que deva introduzir um pouco de história sobre a escravidão em nosso país. O faço com todas minhas limitações, razão pela qual peço perdão antecipado pelos erros, e deixo aqui o pedido para que aqueles que conhecem mais postem comentários me corrigindo e completando este artigo.

Os africanos foram sequestrados e escravizados pelos portugueses e trazidos a força para o Brasil. Isto iniciou no início do século XIV e só veio a se findar em meados do século XIX, foram mais de 300 anos de barbárie e atentado aos povos africanos.

É impossível sequer estimar o número de escravos trazidos pelos navios negreiros ao Brasil. Estudos estimam um número entre 6 a 8 milhões de negros que chegaram a estas terras. Outras centenas de milhares de pessoas morreram nos navios negreiros e foram jogadas ao mar, razão pela qual chamamos o mar de calunga grande.

Desde a sua captura até o momento de suas mortes a grande maioria dos negros não aceitavam a escravidão, e a todo momento lutavam por sua libertação. Inúmeros são os quilombos (locais onde os negros que escaparam dos cativeiros se escondiam e montavam uma sociedade) espalhados até hoje pelo país, e muitos outros foram construídos, numa demonstração de insatisfação diante do pelourinho.

As revoltas que ajudaram o país a ser um Estado independente, e mesmo a proclamação da república só aconteceram pela presença dos negros. Movimentos como o de Canudos, a Inconfidência Mineira, a Guerra Farroupilha, a Cabanada, a Balaiada, entre outras revoltas tiveram a contribuição quase majoritária de negros. Ou seja, nos tornamos independentes pela força e determinação dos negros, nos tornamos uma república pelos braços dos africanos.

Isto não nos ensinam nas escolas, mas basta uma pequena vontade de estudar todos esses movimentos e descobrir quem realmente lutou por um país livre e soberano.

A luta pela independência e pela república também era uma luta pela abolição da escravatura. A Lei Áurea a última de uma série de leis que extinguiria a escravidão no país, só aconteceu pela força de resistência dos negros. Não foi um ato de benesse de uma princesa, ou mesmo um favor dos europeus. Era sim fruto de suor e de muito sangue dos negros e de alguns brancos empenhados nos direitos humanos.

Dentre estes movimentos de libertação, muito é falado de Zumbi, chefe do Quilombo dos Palamares um dos maiores centros de resistência negra que se tem notícia. A ele foi atribuída a data do dia 20 de novembro, data da Consciência Negra. Morreu em 20 de novembro na metade do século XVII, deixando um legado de luta pelos direitos dos africanos e de seus descendentes.

Assim resolvi escrever alguns textos sobre a influência dos negros em nossa sociedade, começo pela religiosidade.

A contribuição dos africanos na nossa religião é enorme, sem esta parcela a Umbanda não seria criada. Os nossos guias chamados carinhosamente de pretos-velhos, são os administradores da Umbanda, nossos gerentes do astral, os que comandam nossa religião. Estes sábios e bondosos guias são a representação de toda a ancestralidade humana, representam aqueles que já passaram na Terra e venceram os desafios, e mesmo assim se apresentam curvados em sinal da mais pura humildade.

Não são poucas as histórias de pretos-velhos, quem se consulta com estas entidades de luz sabe que suas palavras e suas mandingas nos trazem uma paz indescritível, e uma vontade de superar nossos problemas com paciência, mas também com muita persistência.

Em nosso terreiro recebemos também o povo chamado Baiano, que em verdade são os antigos sacerdotes de muitas religiões afro-brasileiras, como a própria Umbanda, o Catimbó, a Jurema, o Xangô de Pernambuco, o Tambor de Mina, o Batuque, Almas de Angola, a Cabula, o Candomblé, seja ele de Ketu, de Angola, de Mina, ou do Jêje, ... . São representações, formas de apresentação de afro-descendentes que professavam uma fé brasileira e que por mais que tenham errado na condução deste ou daquele terreiro, roça, cabana, tenda, mata, etc., estão hoje comprometidos com a lei da Umbanda para trazer luz e sabedoria a todos que a eles se socorrem.

Os nossos Orixás são, a começar pelo nome Orixá, de origem nagô, herança abençoadíssima da África. Diversos partes de nossos rituais são herança dos negros de Angola e do Congo, a nossa percepção de mundo, de cosmogonia se assemelha e se baseia na compreensão dos povos Africanos. O respeito pela natureza, o entender das forças da natureza e a nossa subordinação a estas criações divinas são herança dos negros junto com os nativos de nossa terra brasileira.

A manipulação destas forças da natureza para conseguir ajudar e amparar os necessitados são herança dos índios e dos negros. A hierarquia dos templos de Umbanda, a figura do Pai ou da Mãe de Santo são herança destes povos.

A Umbanda deve muito e não poderia existir sem esta presença cultural, espiritual e científica dos negros.

Os candomblés (candomblé de Ketu, candomblé de Angola, etc.), o Tambor de Mina, o Xangô de Pernambuco, o Batuque (Rio Grande do Sul), as Almas de Angola (Santa Catarina), o Catimbó, o Santo Daime, são exemplos espalhados no país de uma fé baseada em muitos ritos e mitos dos africanos, herança destes ancestrais.

As próprias religiões de matriz européia como a Igreja Católica, muitas igrejas evangélicas, e em especial as pentecostais e neopentecostais, adaptaram seus ritos e seus santos para poderem atrair a população negra brasileira, mostrando a força desta cultura e de seu povo.

Enfim, não existe sequer uma religião no Brasil, que seja aberta, que não tenha de alguma forma uma influência dos negros. A nossa religiosidade enquanto país está enraizada a esta milenar cultura, a cultura dos povos africanos.

Passando depois da questão religiosidade, teremos que reverenciar a influência da África na nossa música. Samba, pagode, blues, rap, hip-hop, reggae, soul, entre tantas outras modalidades são de origem africana. E tantas outras têm raízes fortes dos africanos, como a Bossa Nova, a tropicália, a MPB brasileira como um todo, o chorinho, etc. Sobre a música e a Umbanda já foi publicado em nosso site alguns artigos.

Nossa cultura, nossa forma de viver está impregnada e abençoada com a cultura dos povos africanos, o que nos faz um povo único, rico e cheio de alegria e esperança. Assim, saravá a todos os negros, a todos os afro-descendentes, a todos africanos, saravá a nossa Mãe África.

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