segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ciganos e o amor a vida- Reflexão sobre a encarnação


Entre as qualidades e especialidades de trabalho dos ciganos temos o valor que dão a vida, a vida encarnada e como eles nos ensinam a compreender esta nossa existência na carne e como tirarmos o melhor proveito disto. (já escrevi a este respeito “Ciganos da Umbanda”)

Neste sentido tem uma analogia que o Cigano Carlo, cigano chefe da tribo da Cabana do Pai Tobias de Guiné, uma vez mencionou, e que eu sempre reflito sobre ela e quando posso passo adiante, que apesar de não ser nova, ele (cigano Carlo) deu nova vida a esta estória.
Pensemos em uma divisão simples, não correta, mas ilustrativa sobre nós encarnados. Temos um corpo físico e temos nosso espírito. Guarde esta afirmação e esta divisão simplificada entre o corpo físico e a alma ou espírito.

Pense agora em uma mão vestida de uma luva. Se enxergássemos somente esta parte do corpo e ela estivesse inerte não poderíamos afirmar se a luva estava em uma mão ou não. Somente podemos afirmar isto quando ela está em movimento. Porque sabemos que quem move, quem atua é a mão e não a luva. Entretanto só vemos a luva.

Nós somos assim, apesar de apenas enxergarmos a luva, isto é o corpo físico, este sem o espírito seria um monte de matéria orgânica inanimada. O corpo só atua e só trabalha, se mexe, pensa, etc. porque o espírito, a alma, está no corpo.

Esta é a analogia que muitos de nós já ouvimos, e por si só demonstra como nosso espírito é o importante, e o nosso corpo apenas uma roupa, uma morada passageira. Esta analogia faz com que observemos a transitoriedade da vida, e como a morte carnal é apenas uma etapa da vida, e não um fim verdadeiro, mas a passagem de um ciclo, de uma etapa para a outra.

Certa vez uma pessoa questionou ao Cigano Carlo sobre a vida na Terra, dizia estar muito triste com esta vida e não queria mais estar encarnada e não via propósito nisto. Ele então falou sobre a analogia da luva e da mão. Quando a consulente ia concordar informando que por isto não via razão da encarnação ele perguntou:

“Se eu te der um cabo áspero, cheio de nós e de imperfeições, com farpas e peça para você segurar com toda a força, por mais que você tenha boa vontade e segure sua mão ficará muito machucada e segurará este cabo por muito pouco tempo, não realizando a tarefa que lhe pedi e ainda assim estaria gravemente ferida na palma da mão e por algum tempo não poderia trabalhar não é verdade?”

A consulente responde que sim, estaria machucada ainda mais porque suas mão eram finas e sensíveis. Em seguida o querido Cigano afirmou: “e se eu te desse uma luva grossa você não acha que apesar de ainda sofrer seguraria por muito mais tempo, e com certeza sua mão não estaria muito menos machucada?”

A resposta obviamente foi afirmativa. Para que serve a luva? Para que a mão possa passar por provas, por tarefas mais pesadas e que sem as luvas seria quase impossível, e seria muito mais doloroso e improdutivo.

Sem a encarnação, sem a oportunidade de estarmos em corpos físicos seria praticamente impossível enfrentarmos certas dívidas e certos credores. Seria difícil ou extremamente penoso nos deparamos com inimigos, com desafetos e com situações que erramos diversas vezes. A dádiva da encarnação faz com que nossos espíritos revivam provas sem o trauma da decepção e do fracasso. Faz com que nos deparemos com inimigos em forma de pais, de filhos ou de irmãos para que possamos aprender a perdoar e a amar.

Sem esta dádiva da luva, isto é do corpo físico, não poderíamos cumprir tantas tarefas.
Esta é a graça divina de emprestar para cada um de nós uma luva para que nossa mão trabalhe mais, com menos dor e de forma mais produtiva. Valorizemos a luva, como o trabalhador a valoriza, mas não esqueçamos que quem a move é a mão. Cuidem do corpo para que ele permita que a suas almas trabalhem mais livremente.

Valorizar a vida encarnada não é o mesmo que ter apego a ela, e sim dar graças e aproveitar ao máximo a possibilidade de trabalharmos com esta “proteção” que é o corpo físico.

Saravá a todos os ciganos que nos ensinam a amar a vida, a aroveitá-la e a dividirmos nossas vidas com todos os seres. Obrigado Cigano Carlo por esta maravilhosa lição, e que cada um de nós aproveite a encarnação com muito amor e caridade para com toda a natureza.

Salve os ciganos e as ciganas da Umbanda

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