quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O desenvolvimento mediúnico - I


Como já abordamos algumas vezes em nosso site, a mediunidade é um tema que sempre nos traz dúvidas e curiosidades. Entre seus diversos apontamentos e nuances um dos pontos que mais suscita este caloroso debate é o desenvolvimento mediúnico.

Primeiro é preciso ressaltar o que diversas vezes falamos sobre qualidade mediúnica. O melhor médium é aquele mais moralizado, aquele que vigia mais suas emoções, que consegue exercer um amor incondicional a todas as criaturas. Ou seja, para nos tornarmos melhores médiuns, é imprescindível uma reforma moral em nossas vidas.

Independente da afirmação anterior, existem algumas formas e procedimentos que facilitam o médium em suas incorporações e em seus trabalhos.

Para isso precisamos entender que a mediunidade sempre envolve nossa alma, nossa mente, sendo que o nosso corpo só se envolve após os dois primeiros momentos. Assim precisamos elevar nossos pensamentos, nossa vibração para facilitar o intercâmbio mediúnico.

Não é a toa que os médiuns de Umbanda, 24 horas antes de seus trabalhos, abstêm-se de uma série de alimentos e atividades. O objetivo é zelarmos para que o nosso corpo esteja o mais puro possível.

Seguindo a nossa preparação, momentos antes de nossas giras, devemos zelar para que nossos pensamentos, nossa mente, estejam mais calmos possíveis. Diante disto, é importante deixarmos nossos problemas para o momento das consultas ou dos passes, o restante do tempo devemos nos doar, “sacrificando” o nosso eu, em prol de todos os presentes.

Iniciando a gira é preciso que o médium se envolva com o ritual. Acompanhe os pontos, cante com emoção, para que a mente entre neste ritmo. Ou seja, o ritual disciplina a nossa mente facilitando que nossas mentes deixem nossas questões individuais, nossos problemas pessoais de lado, e canaliza as nossas energias para um ponto em comum fortalecendo o congá e a magia da casa, ao mesmo tempo que facilita o trabalho mediúnico.

Acreditar que o início da gira não é importante, deixar os pensamentos voando, ou ficar chegando sempre atrasado não ajudam este processo tão caro e importante para os médiuns.

Disciplinado com o ritual, com nossa preparação em dia, iniciam-se os pontos que permitem as incorporações. “O que fazer agora?” Fico parado esperando alguém me tomar?” “Como vou saber se estou incorporando, se a entidade está se aproximando?” “Sinto a presença, sinto a energia o que faço?”

Primeiro vamos lembrar do início do texto, a incorporação passa pela nossa mente e pela nossa alma. Isto é, precisamos auxiliar nossa mente neste processo. Entoam-se pontos para Oxossi, cantando deixemos nossa mente caminhar pelas matas, florestas e bosques, vamos em busca da mata astral, trazendo esta energia para o conga, e ao mesmo tempo elevarmos nossa mente, nosso padrão vibratório, aproximando nossa alma de nossos guias, facilitando a incorporação. O mesmo devemos fazer com Xangô, montanhas, serras, cachoeiras cheias de pedras, grandes pedreiras. Yemanjá, o mar, praias, oceano, encosta marítima. Oxum, rios, cachoeiras cheias de flores. Etc.

Se a pessoa tem muita dificuldade em levar a mente até os sítios da natureza e assim aos sítios dos Orixás, pode proceder de uma outra forma: cantando, entoando os pontos cantados, deixar a mente rezando, orando para todos os presentes, pedindo para que os Orixás abençoem todos os espíritos ali presentes. Esta prática também eleva a mente facilitando as incorporações.

Por outro lado, permitir que a mente fique julgando o irmão de corrente, analisando roupas, acessórios, cabelo, ou qualquer outra coisa, deixar a mente divagando em seus problemas irá desfavorecer as incorporações além de dificultar o trabalho da casa.

Este é o primeiro texto a este respeito, vamos trazer outros textos para que possamos ajudar a nossa mente, facilitando nossa caminhada neste seara, a seara mediúnica.

Muito AXÉ, Muita Luz para todos. Muita responsabilidade e compromisso, mediunidade e Umbanda são coisas sérias, muito sérias, mas isso não quer dizer tristes. Fazer nosso trabalho com alegria, isso é imprescindível, mas nunca confundir esta alegria com irresponsabilidade. Saravá!

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O uso do álcoo - Fundamentos da Umbanda - VI


Uma das coisas que faz com que muitos tenham preconceito e até aversão a Umbanda é a utilização de bebidas alcoólicas pelas entidades. Antes de explicarmos a razão e os mistérios desse fundamento, vamos fazer um paralelo com outras religiões.

Qual foi um dos milagres de Jesus Cristo, a água transformada em vinho. Na Igreja Católica Apostólica Romana e nas Católicas Ortodoxas no sacramento da eucaristia o pão representa a carne de Cristo e o Vinho representa o sangue de Cristo, em uma ação que remete à última ceia, demonstrando a união de todos, a comunhão dos fiéis com o filho de Deus.

Em muitas religiões da África o vinho de palma, entre outras bebidas com teor alcoólico, são néctares das divindades. Os Gregos possuíam uma divindade para o Vinho, Baco. Em religiões e cultos xamânicos e ameríndios, em situações determinadas muitos pajés, fazem uso de bebidas com características semelhantes às alcoolizadas.

Enfim, diversas são as religiões que se utilizam da bebida alcoólica como um de seus fundamentos.

Na Umbanda não é diferente, o álcool tem um significado e uma utilização clara e com muito fundamento.

O álcool representa em si mesmo a essência dos elementos: é líquido, veio da terra (cana), pega fogo e é extremamente volátil. É da própria constituição que se assemelha ao éter, e assim à passagem do plano material para o etéreo.

Não só do ponto de vista magístico, mas de outros pontos de vista existe a razão da utilização desse elemento. Comprovadamente é um anti-séptico, ou seja, limpa e desinfeta regiões. É utilizado como desinfetante. Junto com a água serve como excelente diluidor. O álcool 70 (álcool a 70%) é muito utilizado em hospitais e clínicas para a limpeza (assepsia) das mãos e de balcões e utensílios. O álcool de cereais é utilizado em muitos medicamentos para a sua conservação e diluição. O álcool em forma de brandy é utilizado na homeopatia e na medicina floral para a conservação dos medicamentos. Isto para citar alguns exemplos do uso desta substância.

Sua geometria química também auxilia na modelação e materialização (desmaterialização) no plano astral, permitindo que as entidades se utilizem da matéria etérica do álcool para as curas e desinfecções, além de seus efeitos no campo astral na limpeza de miasmas, larvas astrais e outros tipos de concentrações de energias deletérias. Junto com o fogo e com a fumaça (defumação e tabaco) são essenciais na destruição de campos deletérios e de vínculos realizados por feitiçaria.

Ou seja, há uma razão para a utilização do álcool, sob diversos pontos de vista. A pergunta que permanece e gera controvérsia é a ingestão das bebidas alcoólicas pelos médiuns incorporados.

Para começarmos a responder esta pergunta, primeiro temos que observar que nenhum médium ingere bebidas alcoólicas antes de suas incorporações, aliás, devemos nos abster, pelo menos, 24horas antes do início das giras de qualquer bebida alcoólica. Nenhum médium se embriaga, não há a ingestão de bebidas em quantidades exorbitante. Assim, as bebidas alcoólicas ingeridas pelos médiuns já incorporados não é feito para entrarem em um estado de consciência alterado, ou para entrarem em transe, uma vez que se o fizessem com esta finalidade deveriam fazer antes de sua manifestação mediúnica, e não após a mesma. Ou seja, o álcool ingerido serve a outros propósitos que não o da embriaguez, ou para a alteração dos estados de consciência.

“Mas se não tem esta razão por que se deve bebê-lo, e não apenas ter este elemento no ponto, ou no chão?” Alguns podem ainda questionar. Primeiramente devemos recordar que o álcool ingerido tem sua eliminação prioritariamente pelo sistema respiratório, ou seja, pelo pulmão. Quando o álcool é absorvido pelo organismo, a primeira e maior parte do álcool é expelido na nossa respiração, é por isto que o bafômetro pode detectar quem ingeriu e quem não ingeriu álcool e qual a sua quantidade.

Assim quando um médium incorporado toma a bebida alcoólica imediatamente ele começará a ser eliminado pelos pulmões. E o que é que as entidades fazem? Não dão sopros ou baforadas para limpar e ajudar a assistência? Não vão em suas consultas administrar vibrações, passes, e com eles aplicar sopros? É neste momento que o astral irá manipular o álcool para criar as condições necessárias para a limpeza, a materialização ou desmaterialização.

Então a entidade incorporada começa a soprar, dar suas baforadas nos consulentes criando as condições materiais e astrais para a realização da magia da Umbanda, sob o axé e a graça dos Orixás.

Cabe ainda ressaltar a importância do sopro. Em um mito temos que Nanã deu o barro para Obatalá moldar os humanos, este protegido e assistido por Exu moldou e deu forma ao homem e a mulher, mas quem deu a vida, o espírito foi Olorum com o seu sopro. História muito semelhante encontraremos na Bíblia, no livro do Gênesis, em que do barro Deus fez o homem e com o sopro lhe deu a vida. Os alquimistas e muitos cientistas dos séculos passados acreditavam que o sopro era a fonte de vida. Chamava o sopro a essência vital, sem ele não haveria vida. Os pajés em suas curas sempre fazem uso do sopro. As mães e pais quando um filho se afoga, se machuca logo vão assoprar suas crianças para lhe ajudarem. O que queremos dizer é que é pelo sopro que passamos nossa energia vital, nossa vontade, nossas energias curadoras. Com este ato, aliado ao álcool que criará as condições materiais e etéricas para a cura, aliado aos elementais, as energias da natureza, ao ectoplasma dos médiuns e a energia astral dos Guias e dos Orixás é que a Umbanda faz seu trabalho.

Enfim, o álcool é um dos fundamentos da Umbanda e é muito utilizado na magia e nas mirongas, saber o porquê de seu uso, e combater o preconceito quanto a ele, somente engrandece nossa força, e traz respeito aos fundamentos e a maneira de fazer caridade da Umbanda.

Saravá a todos!

P.S. O uso do álcool é feito de forma ponderada, equilibrada e dentro de inúmeros sistemas de controle em uma religião, o seu uso fora deste sistema, não é recomendado, e deve ser evitado