sábado, 6 de junho de 2009

Integração – uma Lição do Caboclo Mata Virgem



Quando nossa casa (TULAP – Cabana do Pai Tobias de Guiné) completou três anos o Caboclo Mata Virgem disse que a nossa missão para o ano seria entendermos e vivermos a integração com toda a natureza, incluindo a natureza física e astral, espiritual.

Nesta lição o chefe do nosso congá afirmou que todos os seres vivos, encarnados e desencarnados, além de toda a natureza estariam integrados muito mais do que podemos imaginar. Começou dizendo sobre a natureza, o meio ambiente:

A afirmação do aquecimento global, a mudanças climáticas que o mundo todo estava e está vivendo. Se alguém do outro lado do mundo poluir todos aqui, lá e acolá estarão sofrendo as consequências, da mesma forma iniciativas de preservação e recuperação da natureza refletirão de forma positiva em todo o globo.

“A ciência”, dizia o nosso Caboclo de Oxóssi, “está descobrindo e comprovando esta interligação umbilical entre todo o meio ambiente”. Mas esta integração vai muito além do clima, das marés e das correntes de vento. Esta integração é um conceito em que tudo que foi criado por Deus, por meio dos Orixás, são interdependentes, estão conectados e influenciam a vida e a evolução de todos.

Já dizia Buda: “Um homem só será plenamente feliz quando todos os homens forem felizes”. Esta frase demonstra o que o Caboclo Mata Virgem pregou aquele dia. Dizia que quanto mais um espírito evolui mais ele trabalha para o bem dos outros espíritos e pelas outras formas da criação.

Escrevendo este texto recebi a seguinte intuição de nosso Caboclo Mata Virgem:

“Quando vocês recebem dinheiro, ou um prêmio qualquer, não querem dividir ou ajudar suas famílias e amigos mais próximos? Então quando vocês por merecimento e por conquista de seus esforços alcançarem degraus mais elevados da espiritualidade não vão querer ajudar que outros espíritos façam a mesma jornada? Não vão querer que estes espíritos alcancem a luz?
A solidariedade entre vocês tende a crescer, o amor incondicional irá ocupar cada vez mais espaço em seus corações, se assim trabalharem, e então estarão lutando cada vez mais para a iluminação e libertação de seus irmãos.

Mas, esta integração extrapola os seres humanos e seus espíritos, ela deverá alcançar toda a forma de vida, deverá alcançar toda a natureza, as rochas, os rios, a água, os raios de sol, o fogo, o ar e seus ventos, e assim por diante. Se observarmos os grande sábios que já habitaram a Terra descobriremos como interagiram com a natureza.

Exemplos todos vocês já ouviram. Moisés e o Mar Vermelho, São Francisco de Assis e os animais, Jesus Cristo e todos os seus milagres, entre tantos outros.

Por isso a Umbanda vem resgatar esta integração, vem recuperar a sagrada natureza, vem demonstrar a todos que os rios, riachos, cachoeiras, por exemplo, não são recursos naturais para servirem ao homem ao seu bel prazer. São sim espaços sagrados onde Oxum, emanação de Deus-Uno, reina e abençoa. E por isso todos devem respeitar, preservar e jamais poluir. Pois a agressão não é somente ao rio, mas a toda a Terra e assim a toda a vida.

Vocês, brancos, quando dessacralizaram os recursos naturais afirmando que as religiões primitivas eram ignorantes ao as venerarem (os recursos naturais como rios, pedreiras, etc), arrumaram uma grande desculpa para utilizarem da natureza para o acúmulo de suas riquezas e luxos.

Ao não verem um rio como uma emanação de Deus, uma energia divina, permitiram aos seus semelhantes a profanação e o uso indiscriminado, poluindo e destruindo estes sítios sagrados.
Hoje todos voltam suas atenções para isto, todos querem ou deveriam querer, recuperar a sujeira e a destruição causada pelos seus ancestrais. Observem como ainda hoje muitas tribos, muitos povos vivem em harmonia com a natureza. Utilizam os recursos naturais, mas não para acumular riqueza ou ostentação, mas para a sua sobrevivência. Isto é o natural.

Mais e mais pessoas buscam o contato com a natureza para curarem doenças da mente e do corpo. Mais e mais aparecem grupos de pessoas gritando para que parem de poluir. Hoje começamos a entender que se não estivermos integrados a natureza não poderemos ser felizes, sequer poderemos habitar este planeta.

A Umbanda devolve a estes recursos naturais o seu estado de sagrado. Cada umbandista deve e deverá compreender isto e trabalhar por isto, pois sabe que as mirongas e as magias do congá, nada mais são que a manipulação consciente e responsável das energias da natureza.

Das ervas fazemos os banhos, chás e beberagens para curar o corpo astral, mental e físico, das águas sempre procuramos o descarrego e o reequilíbrio, do fogo e da terra almejamos as transmutações de estados deletérios para estados benfazejos. Buscamos nos bosques e nas matas a energia da vida, da virilidade, da esperança. Das rochas, rochedos e pedreiras a força da Terra, o equilíbrio que é tão importante. Pedimos aos ventos que tragam as boas novas, que a brisa traga nova vida e as tempestades destruam nossos erros e vícios. Enfim a todo instante estamos rogando aos Orixás para que permitam a nós, emissários e instrumentos de Deus que façamos uso das energias da natureza para nós, ou para aqueles que precisam da cura e do amor.

Quantas entidades vemos trazendo ao seu lado animais como lobos, águias, panteras, cobras, pássaros, e assim por diante. Demonstrando a ajuda e o auxílio de nossos irmãos animais não humanos dão a toda a Terra e a toda a vida. Não só no astral, mas por toda a Terra encarnada o homem só sobrevive pela ação dos animais e das plantas. Seja pela polinização da abelha e da borboleta, seja pela fotossíntese , seja pela ação da minhoca, dos besouros e moscas que limpam os restos mortais, seja pelo controle da população de outros animais que os predadores o fazem, seja como for somos dependentes da Terra e de toda a sua vida.

Quando adentramos nos sítios da natureza percebemos a energia, a dádiva de cada lugar sagrado. No mar, nas cachoeiras, nas matas, enfim. Sempre buscamos nosso equilíbrio e nossas forças nestes lugares. A integração não é novidade, mas é ensinamento muitas vezes esquecido e desprezado.

Sentir-se parte do todo nos dá a grandeza da Criação, nos faz refletir sobre o nosso papel e assim nos torna humildes servos de Deus e dos Orixás. Amar a todas as criaturas, amar a toda forma de vida por mais insignificante que seja, amar a rocha, a terra, o fogo, os minerais, fará de cada um de nós seres mais plenos e mais pertos dos Orixás e assim de Deus.

Qual a diferença entre um homem e uma formiga? Qual a diferença do homem e de um bambu? Não são feitos de átomos iguais? A matéria é a mesma e isto sempre esteve presente nas suas ciências, mas somente agora vocês começaram a entender quão iguais são.

A genética demonstra que a diferença entre um homem e uma galinha nada mais é do que uma pequena porcentagem do seu DNA. Será que isto já não é prova o bastante para compreendermos tudo como uma grande família?
Ama a Deus sobre todas as coisas, diz um texto sagrado. Se você ama o Criador pode destruir a sua criação?

Compreender esta integração, e mais do que isto sentir-se integrado a tudo dará a mente de cada um a verdadeira Umbanda e a missão de todos nós. Dará a mais clara e inequívoca certeza de que devemos amar ativamente tudo e todos, e só assim poderemos trilhar nosso caminho rumo a verdadeira e duradoura felicidade!

Interajam com a natureza, interajam com seus semelhantes e com outros animais, sintam a Terra, sintam a vida, pois são parte integrante dela. Isto dará a todos você equilíbrio e paz. Esta integração não se faz sem amor, sem respeito e sem humildade.

Que a Paz de Deus, de Cristo e dos Orixás cubram cada um de vocês, e que possamos nos sentir cada vez mais partes do Todo, nos interligarmos cada vez mais a tudo e a todos. Saravá”.

Caboclo Mata Virgem, 01 de junho de 2009. O relato intuído de nosso mestre Caboclo nos traz a grandeza da criação e de como nos afastamos da vida natural. A Umbanda sem dúvida nenhuma nos dá exemplos diários da importância desta integração. A começar por suas entidades, que são das diversas etnias, raças humanas.

Se percebermos nossa história de civilização foi uma sequência de ações para nos afastar da natureza, de só utilizar a natureza para uso de nossa espécie e para as nossas riquezas, independente dos danos a outras formas de vida.

Com isto nos distanciamos da simplicidade da vida natural que hoje todos almejamos. Para termos uma idéia desta distância é só lembrarmos dos acontecimentos não tão distantes como o Tsunami. Nesta onda gigantesca que matou inúmeras pessoas e devastou a costa do país asiático, um dia antes, os animais demonstraram inquietação nunca vista. Alguns animais do zoológico da região chegaram a quebrar paredes e a fugir, como os elefantes, outros se esconderam nas tocas e nas construções. Os animais soltos migraram para terras mais altas. Ou seja, sentiam a Terra, conversavam com a Mãe Natureza, e percebendo o fenômeno Tsunami buscaram salvar a si a aos seus. Por que os animais humanos não perceberam isto?

A mesma história se repete em outras situações como o recente terremoto da China. No santuário dos Ursos Panda, inúmeros animais ficaram agitados e querendo fugir dias antes do grande terremoto que infelizmente quase destruiu o santuário Panda.

Estes exemplos demonstram como temos que aprender a respeitar e a entender os animais, com amor e não com violência. E como que integrados a tudo aprenderemos a conhecer melhor a nós mesmos e assim quem sabe crescermos espiritualmente.

Bons exercícios de integração, e interligação a Terra, e acima de tudo bons exercícios de amor para a Terra e para toda a sua forma de vida, e para toda a forma inanimada do planeta.

Saravá a Umbanda, saravá os Orixás, saravá a Natureza e a Terra.


Dia 05 de junho de 2009, dia mundial do Meio Ambiente.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ciganos e o amor a vida- Reflexão sobre a encarnação


Entre as qualidades e especialidades de trabalho dos ciganos temos o valor que dão a vida, a vida encarnada e como eles nos ensinam a compreender esta nossa existência na carne e como tirarmos o melhor proveito disto. (já escrevi a este respeito “Ciganos da Umbanda”)

Neste sentido tem uma analogia que o Cigano Carlo, cigano chefe da tribo da Cabana do Pai Tobias de Guiné, uma vez mencionou, e que eu sempre reflito sobre ela e quando posso passo adiante, que apesar de não ser nova, ele (cigano Carlo) deu nova vida a esta estória.
Pensemos em uma divisão simples, não correta, mas ilustrativa sobre nós encarnados. Temos um corpo físico e temos nosso espírito. Guarde esta afirmação e esta divisão simplificada entre o corpo físico e a alma ou espírito.

Pense agora em uma mão vestida de uma luva. Se enxergássemos somente esta parte do corpo e ela estivesse inerte não poderíamos afirmar se a luva estava em uma mão ou não. Somente podemos afirmar isto quando ela está em movimento. Porque sabemos que quem move, quem atua é a mão e não a luva. Entretanto só vemos a luva.

Nós somos assim, apesar de apenas enxergarmos a luva, isto é o corpo físico, este sem o espírito seria um monte de matéria orgânica inanimada. O corpo só atua e só trabalha, se mexe, pensa, etc. porque o espírito, a alma, está no corpo.

Esta é a analogia que muitos de nós já ouvimos, e por si só demonstra como nosso espírito é o importante, e o nosso corpo apenas uma roupa, uma morada passageira. Esta analogia faz com que observemos a transitoriedade da vida, e como a morte carnal é apenas uma etapa da vida, e não um fim verdadeiro, mas a passagem de um ciclo, de uma etapa para a outra.

Certa vez uma pessoa questionou ao Cigano Carlo sobre a vida na Terra, dizia estar muito triste com esta vida e não queria mais estar encarnada e não via propósito nisto. Ele então falou sobre a analogia da luva e da mão. Quando a consulente ia concordar informando que por isto não via razão da encarnação ele perguntou:

“Se eu te der um cabo áspero, cheio de nós e de imperfeições, com farpas e peça para você segurar com toda a força, por mais que você tenha boa vontade e segure sua mão ficará muito machucada e segurará este cabo por muito pouco tempo, não realizando a tarefa que lhe pedi e ainda assim estaria gravemente ferida na palma da mão e por algum tempo não poderia trabalhar não é verdade?”

A consulente responde que sim, estaria machucada ainda mais porque suas mão eram finas e sensíveis. Em seguida o querido Cigano afirmou: “e se eu te desse uma luva grossa você não acha que apesar de ainda sofrer seguraria por muito mais tempo, e com certeza sua mão não estaria muito menos machucada?”

A resposta obviamente foi afirmativa. Para que serve a luva? Para que a mão possa passar por provas, por tarefas mais pesadas e que sem as luvas seria quase impossível, e seria muito mais doloroso e improdutivo.

Sem a encarnação, sem a oportunidade de estarmos em corpos físicos seria praticamente impossível enfrentarmos certas dívidas e certos credores. Seria difícil ou extremamente penoso nos deparamos com inimigos, com desafetos e com situações que erramos diversas vezes. A dádiva da encarnação faz com que nossos espíritos revivam provas sem o trauma da decepção e do fracasso. Faz com que nos deparemos com inimigos em forma de pais, de filhos ou de irmãos para que possamos aprender a perdoar e a amar.

Sem esta dádiva da luva, isto é do corpo físico, não poderíamos cumprir tantas tarefas.
Esta é a graça divina de emprestar para cada um de nós uma luva para que nossa mão trabalhe mais, com menos dor e de forma mais produtiva. Valorizemos a luva, como o trabalhador a valoriza, mas não esqueçamos que quem a move é a mão. Cuidem do corpo para que ele permita que a suas almas trabalhem mais livremente.

Valorizar a vida encarnada não é o mesmo que ter apego a ela, e sim dar graças e aproveitar ao máximo a possibilidade de trabalharmos com esta “proteção” que é o corpo físico.

Saravá a todos os ciganos que nos ensinam a amar a vida, a aroveitá-la e a dividirmos nossas vidas com todos os seres. Obrigado Cigano Carlo por esta maravilhosa lição, e que cada um de nós aproveite a encarnação com muito amor e caridade para com toda a natureza.

Salve os ciganos e as ciganas da Umbanda